segunda-feira, 29 de março de 2010

reencontros


De Sidónio Bettencourt


reencontros

não sei se te encontrarás algum dia e se me vires não digas palavra. saberei dizer-te no olhar o que me escondeste dos olhos e da voz calada sentirás o poema da partida. se disseres chegada guardarei nas mãos todo o tempo de dar. esperei todos os dias pela claridade, mas amanhã de manhã não voltou. e a noite se fez dia e madrugada outra melodia e eu sem nada.

sábado, 20 de março de 2010

PICO




...PICO!

Acordo. Ainda não, ainda não acordei. Deslizo da cama, ponho os pés nus no velho soalho de pinho resinoso e caminho até à janela. Um só olho aberto, que não quero ainda acordar .... Abro os tapa-sóis e...eis, eis o que me faz respirar um novo dia, eis aquela dádiva da natureza - o PICO! Os olhos abrem-se num rompante para saborear um GRANDE AMOR da minha vida – o PICO.
Este cenário gongórico, faz-me sonhar, faz-me sentir que eu, apenas um singelo ser humano, me sinto privilegiada olhando e saboreando todo este luxo. Sim, isto é um luxo!!!

Olho, volto a olhar, deixo-me enebriar pela silhueta majestosa, pelas várias gradações de tons e de luz, as núvens circundando ou acariciando este belo monumento da natureza...

...vou até à varanda...

...ah, mas hoje não há núvens!!! A aurora levanta-se sorrateira por detrás de S. Jorge e a estrela de alva altaneira olha-me sem rodeios. Está frio. Cheira a terra, a faias e a araçá. A passarada já é pouca, mas exuberante na sua cantoria. Recordo este mesmo cenário, 47 anos antes, quando o meu Pai me fez levantar da cama às 5h da madrugada, para ver o maior e mais belo espectáculo da minha vida, que jamais esqueceria. Nessa altura a nossa antiga quinta isolava-nos e a observação da natureza era mais tangível. Tudo era mais puro e excessivo: a natureza revelava-se no seu infinito esplendor...e eu agradeci a Deus me ter feito obediente (a fase da rebeldia fora acaçapada...) para saborear tal maravilha até à exaustão.
Agora olho o PICO como uma dádiva de Deus. Namoro-o. Ele seduz-me. Eu olho-o e ele revela-se. É quase uma troca de olhares...é um enamoramento. Eu sei que ele nunca me trairá. Eu sei que ele está e estará sempre ali, mesmo que não o veja.
E eu quero senti-lo!

Tenho de ir... e vou!
Atravesso o canal. Olho aquele PICO e sinto-o a aproximar-se. Já o respiro. Entranho-me nele, naquele cheiro a maresia misturada com urze e incenso. Caminho sem pensar, alheada de sons e vozes. E gosto de caminhar sòzinha entregue a sensações e emoções que não quero partilhar...aquela pontinha...a do PICO... aquela porta vermelha emoldurada pelas pedras negras cobertas de verde, o verde feérico das vinhas novas dentro de tanto preto... Não me interessam as coisas novas. Não as vejo. Passo sem elas, ou elas passam por mim e nem as vejo... apenas quero respirar as cores e emoções, profundamente, como se o Tempo já não me desse tempo para as ver.
À minha direita, o mar banhando ou salpicando de espuma as raízes negras que brotaram desse mesmo mar e se fizeram ILHA. Aquele mar desliza até que a minha vista
o perca. É imenso este mar. Será mar ou um manto fluido em tons de cinza e azuis? Também tem branco, aquele que congrega todas as cores. As minhas cores...as cores inesquecíveis do universo, aquelas que Deus plantou p’ra nosso deleite.
Chego às Lajes.
O Castelete obriga-me a circundar a vista, a paisagem alcandorada semicerrando a vila. Aqui não é o mar que me chama. Aqui sinto virar-me para norte, à procura de alguma estrela guia que me chama, que me apela a procurá-la. São montes esverdungados que se amontoam e prolongam o olhar. É o cabeço Mariano, é o Moiro, o Escalvado, as Cabecinhas e tantos que não lhes sei o nome. Eles existem ali apenas com o propósito de emoldurar, de preparar o olhar para a grande explosão magmática duma montanha em erecção, da minha montanha-macho, daquela que me entontece, que me derruba, que me faz transbordar a vista e a alma. Ali, nas Lajes, eu sinto a verdadeira grandeza e vigor da MONTANHA do PICO. Ali não é, nem há cenário. Ali é o universo em nós, é a FORÇA em infinito crescendo. Ali há Deus!



Margarida de Bem Madruga

sexta-feira, 19 de março de 2010

Já gastámos as palavras...





Adeus

Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Parabéns, Isabel, olhos de Montanha!



A Isabel, picarota de S. João, nossa freguesia natal, das Lajes do Pico é jornalista da RTP Açores. Ela é uma sonhadora inveterada. Pior que ela, só eu!!!
Isabel, minha querida, mil beijos de PARABÉNS!!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

PARABÉNS, ISABEL FIDALGO!

Hoje, a LIA/IBEL ou ISABEL FIDALGO, faz anos.

Ela veio de mansinho, com "som de véu e veludo" e instalou-se nas nossas vidas...
Ela é a poeta da esquina da minha vida...
Ela é a menina-mulher com alma de filigrana...
Ela chora quando eu choro...
e traz-me alento...
Ela habita na minha alma e veio p'ra sempre!
Ela é MINHA MANA, das poucas que Deus escolheu p'ra mim!!!

e ela faz anos hoje!
PARABÉNS, LIA!!!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Exposição - Porque me olhas assim?







Porque me olhas assim?


“Os olhos amam primeiro
o coração vê depois”
Daniel de Sá

“Porque me olhas assim
No vago do teu olhar
Que é tão grande como o mar
Tão forte como tu em mim”
João Carlos Fraga




Porque me olhas assim? Ah, quanta esperança no brilho do teu olhar...

Porque me olhas assim? Alcandorada no magma da rocha da tua força, latindo um vago sorriso...

Porque me olhas assim? Alquebrada e estóica até ao fim, desconfiadamente agarrando o que resta, o que talvez ainda reste... do conteúdo da tua alegria...

Porque me olhas assim? No sereno do teu olhar, na sobrevivência a tanto sofrimento, no aconchego da tua resignação, abençoa-me!

Porque me olhas assim? Acochada no avaro da tua descoberta, nada queres partilhar.

Porque me olhas assim? Na singeleza da tua nudez apenas te resguardas... olha que a VIDA não é assim!

Porque me olhas assim? Olhos espúrios que me queimam, que afugentam o meu olhar. Não te quero!

Porque me olhas assim? Insidiosamente penetras-me, olhas-me por dentro até a minha alma se derramar em ondas de mar branco...

Porque olhas assim? Já nem olhas, já não vês, apenas desabaste os teus sentidos pelos corredores do universo...e ainda não voltaste!

Porque me olhas assim? O teu sorriso magmático, enigmático, também prazeiroso, também redondo, traz-nos a nostalgia dos TEMPOS sem TEMPO. Sustém-te!

Porque me olhas assim? Melancolia eterna ou efémera?

Porque me olhas assim? ...talvez breve...talvez viajante esse teu olhar...

Porque olhas assim? O que viste, que te perturba?

Porque me olhas assim, com esse ar azul de olho longínquo e olhar pausado e pousado?

Porque me olhas assim, bébé, com esse teu grande olho tão redondo?

Porque me olhas assim? Serenamente navegas ao sabor de carreiras de sonhos emoldurados de canseiras...e és tu!

Ah, já não olhas! O passado levou-te o presente...

Porque me olhas assim? O TEMPO virá.
Porque me olhas assim? ...e o TEMPO veio...

Não me olhes assim!!!
Não me olhes!
Não quero que me olhes assim.
Porque me olhas? Assim...não me olhes
Porque me olhas assim?
Porque me olhas? Assim
Assim, sim!
...olha-me...assim...



Margarida (de Bem) Madruga
Horta, Primavera de 2008

Flores silvestres


segunda-feira, 15 de março de 2010

Querem o meu auto-retrato? Ei-lo, assim, assim... mais ou menos...



(Pedem-me cada coisa!!! Eu nem sei mexer nisto!!!)

Até aos 12 anos fui terrível: rebelde e maria-rapaz. Levei tanta palmada que descobri ser mais fácil fazer o que os meus Pais queriam.
Quis ser pintora. Meu pai não deixou. Fui arquitecta e amei a minha profissão como quem aprende a amar um "marido por conveniência"...
A arquitectura deu-me a sobrevivência económica e, enfim, agora faço o que quero: sou pintora e divirto-me...
Quando era jovem era bem bonita, mas não tinha noção de mim mesma; agora, que perdi a frescura, acho que... Ah, nem sei o que diga!!!

(ehpá, não sei alinhar nada disto!)




domingo, 14 de março de 2010

Faz hoje 2 anos...


Fui 40 anos uma fumadora inveterada!
Faz hoje 2 anos que terminei com tudo. (Duma forma violenta, mas acabei).
Tive salmonelas. Desmaiei e rasguei a cara. Fui ao hospital e...apanhei uma bactéria hospitalar que se alojou nos pulmões...
Não morri, deixei de fumar e arranjei uma cicatriz.... Tá feito!!!

DRÍZIA, ou a password


Marrocos profundo, à margem dos festejos dos 25 anos da subida ao poder de Assan II.

Foram 15 dias percorrendo caminhos recônditos, nesse Marrocos profundíssimo e tão digno, à deriva no Tempo e no Caminho. O sorriso e o olhar eram a única linguagem entendível por aquele povo sereno, pacífico que povoava os lugares não visitáveis, os lugares que não vinham no mapa. (Com este povo tão singelo, assim se pode entender porque Afonso Henriques os desbaratou!). Olhavam para nós com um misto de curiosidade e temor.

E lá íamos nós estradas fora, saboreando o imprevisto e o improviso...

Numa curva de caminho secundário a uma estrada secundária, surge uma jovem que, quando nos vê sentados na erva fazendo um piquenique, fica completamente aterrada. (Já antes, várias jovens esperaram que rapazes viessem em seu auxílio para poderem passar por nós e seguir o seu caminho. Deviam ver-nos como extra-terrestres!). Percebi o embaraço da jovem e, devagar, sorrindo, dirigi-me a ela levando bolachas para a presentear. Que pavor naqueles olhos de menina só! Fui sorrindo e falando todas as palavras que eu julgava saber para que pudessemos comunicar. Nada, apenas pavor...
... percebi que estava apenas em mim a capacidade de poder comunicar e, num rasgo de clarividência, lembrei-me de que FÁTIMA era o nome da filha do profeta.
MILAGRE! Aqueles olhos de menina de 15 anos abriram-se de contentamento dizendo não. Não, não era Fátima, mas sim DRÍZIA!

Meu Deus, que momento lindo! Duas criaturas de Deus, de mundos diferentes, estavam comunicando!!!

Obrigada, Senhor, pela capacidade que me deste em descobrir qual a “password” para poder comunicar com aquela jovem.



De que outras “passwords” precisarei no resto da minha VIDA?


Margarida de Bem Madruga

EIS-ME!!!!!

...e aqui estou, começando não sei bem o quê e...nem sei se terei pachorra para continuar!!!

Seja bem-vindo quem vier por BEM!